A essência da Cabala

A Cabala ou Kabbalah são ensinamentos que fazem parte do misticismo judaico, e como todo misticismo a Cabala busca uma verdade espiritual e uma união com o divino, sendo assim ela é uma sabedoria espiritual que ensina as leis espirituais que governam a vida. E uma vez que para os cabalistas a Torah está codificada, os ensinamentos da Cabala eram e são utilizados até hoje para interpretar esses códigos e compreender o sentido espiritual dos textos sagrados.

A palavra Cabala vem do hebraico e significa literalmente receber, pois entendia-se que os ensinamentos da cabala deveriam ser transmitidos de um mestre para um aluno escolhido, porque esses ensinamentos eram impossíveis de ser compreendidos sem orientação. Era necessário que o aprendiz tivesse a partir de 40 anos para poder aprender esse conhecimento, pois acreditava-se que nem todas as pessoas estavam preparadas para receber essa sabedoria.

A origem da Cabala tem sido freqüentemente apontada na idade média, no entanto ela não tem uma história com parâmetros definidos. Acreditasse que ela é de um período muito anterior a idade média, e segundo Eliphas Levi[1], a origem dessa sabedoria remete aos caldeus, e que os judeus durante o cativeiro babilônico tiveram contato e adaptaram as suas escrituras. Os cabalistas atribuem esse conhecimento a uma tradição oral que foi passada de Enoque para Abraão e depois esse transmitiu para seus filhos e netos, e que Moisés recebeu esse ensinamento da parte de Deus e transmitiu a alguns discípulos para que o conhecimento não fosse perdido.

A Cabala então combinou os fundamentos do judaísmo com diversos elementos de diferentes crenças, filosofias e ocultismo, como: a doutrina Hindu da metempsicose[2], o sistema caldaico de astrologia, a angiologia e demologia dos babilônicos e persas, as características do culto sincretizado de Serapis-Isis [3]do Egito helenizado e os cálculos numerológicos. E estruturou seu sistema teológico com base na doutrina neoplatônica das emanações[4], na seita Sufi maometana [5]e no ascetismo [6]da igreja medieval.

A Cabala esta dividida em duas correntes, a cabala teórica e a cabala prática. Na cabala teórica encontramos as tradições patriarcais sobre os mistérios da criação e da Divindade. Existem três livros principais da Cabala que contém essas tradições, o Sefer Ietzirah (Livro da Criação), O Bahir (Brilho) e o Zohar (Esplendor). O Sefer Ietzirah é atribuído ao patriarca Abrão, e nele estão as Dez Sefirot (Esferas Místicas de Deus), que é a Árvore da Vida, um diagrama cabalístico quem contém os dez princípios que geraram a existência. Já a cabala prática é a parte mágica da Cabala, sua origem é apontada na idade média, e através dela se estuda a semântica do alfabeto hebraico, atribuindo as letras hebraicas valores numéricos, para que se pudessem ativar as forças criadoras do alfabeto, pois para os cabalistas Deus havia criado o mundo através das vinte duas letras hebraicas, e com isso era possível a operação de milagres.

Assim concluímos que a Cabala não é uma religião e sim um conjunto de conhecimentos tradicionais que foram transmitidos através da tradição oral e que durante um longo tempo foi uma sabedoria restrita a um determinado grupo, e a partir do século XX se popularizou e tem sido estudado por pessoas de diversos seguimentos.

[1] Eliphas Levi é o pseudônimo de Alphonse Louis Constant, foi um escritor e ocultista francês.
[2] Metempsicose teoria que admite a transmigração da alma de um corpo para outro.
[3] Serapis-Isis o culto a essa divindade foi introduzido em Alexandria, por volta do século IV a.C. com o propósito de reunir em um sincretismo as tradições religiosas egípcias e helênicas. Serapis identificava-se com Osíris, o marido de Isis.
[4] Doutrina neoplatônica das emanações é a doutrina que diz que tudo quanto existe derivou-se da Realidade ou Ser supremo.
[5] Seita Sufi maometana é uma seita mística muçulmana, de práticas ascéticas e tendências panteístas, que se difundiu desde os primeiros séculos do Islã.
[6] Ascetismo prática da abstenção de prazeres e até do conforto material, adotada com o fim de alcançar a perfeição moral e espiritual.


Referências Bibliográficas:

AUSUBEL, Nathan. Coleção Judaica vol. 5 – Conhecimento Judaico I. São Paulo: Editora Sêfer, 2009. p.101-106

BLECH, Rabino Benjamin. O mais completo guia sobre Judaísmo. São Paulo: Editora Sêfer, 2004. p. 123-137

COOPER, David. A cabala e a prática do misticismo Judaico. 1 ed.Rio de Janeiro : Editora Campus, 2006. p. 9-11

KENTON, Warren Astrologia Cabalística- anatomia do destino. São Paulo: Editora Pensamento, 1982. p. 29-38

LEVI, Eliphas. As origens da Cabala. 12ª Ed. São Paulo: Editora Pensamento, 2007. p. 1-10

LORENZ, Francisco Valdomiro. Cabala- A Tradição Esotérica Do Ocidente. 1 ed. São Paulo: Editora Pensamento, 2011. p. 11-17

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